Há espaço para todos no Pop, menos para os fãs.

Seja honesto consigo mesmo, o mundo está dividido entre odiadores e bajuladores. Não há equilíbrio, parece que não há mais aquela parcela que sabe curtir o que é bom e apontar o que está ruim sem perder a admiração pelo artista. Eu sei que você lendo isso está pensando "mas eu sou assim, eu sei ser crítico", mas a verdade é que todos nós achamos isso de nós mesmos.


Há um bom tempo eu escrevi uma coluna chamada "2014: O Ano que a Música Pop Cansou" e parece que ela é tão relevante hoje como foi no dia que a escrevi. Cada vez mais a música pop vai pelos trilhos da calmaria, mas este trem deixou pra trás seu elemento mais importante: os passageiros.

Em 2016 tivemos de tudo: Anahí, Ariana Grande, Beyoncé, Britney Spears, Celine Dion, Lady Gaga, Rihanna, Sia, Sophie Ellis-Bextor, Thalía e vários outros lançando álbuns novos. Durante o ano inteiro eu observei páginas de fãs e os comentários são sempre do mesmo tipo, dizendo que fulana já não canta como antes, sicrana morreu e foi substituída, beltrana já não é mais relevante. A princípio pode-se pensar que não passa de um monte de comentários odiosos de pessoas que estão na internet apenas para dizer coisas ruins.

Mas então eu comecei a prestar mais atenção. Peralá, boa parte dessas pessoas reclamando são fãs de longa data, pessoas que estão acompanhando estes artistas desde o início de suas adolescências, sendo 20 anos para alguns ou 2 meses para outros. São pessoas que compram os álbuns e vão aos shows e a opinião que impera é "vou esperar essa era passar e ver o que vem depois".

Vou usar como exemplo o Joanne, álbum mais recente da Gaga. Cara, eu AMEI aquele CD! Parece que de alguma forma ela ouviu tudo aquilo que eu já reclamei sobre ela desde 2009! Ele é simples, sem efeitos, sem aqueles "gagaruhahagagaoohlalala" que deixavam a música estranha. Ele aposta na combinação da voz dela com a melodia em todas as 14 faixas. E que combinação bem executada! Cheek to Cheek está para Gaga assim como Evita está para Madonna, foram mais uma escola que um álbum - e o trabalho seguinte fica marcado como um verdadeiro divisor de águas em suas carreiras.

Mas eu não sou fã da Gaga. Sempre ouço o que ela lança, mas não sou fã nem nunca pretendi ser. Enquanto Joanne foi disparado pro meu Top-5 de álbuns de 2016 (Encore un Soir, Familia, Latina, Joanne e Lemonade, se você ficou curioso), não pude deixar de ver a quantidade quase unânime de fãs que ficaram desapontados com o álbum. Pessoas que gostam da Gaga por ser aquela artista que usa um vestido de carne. Gostos à parte, consigo compreender fácil a sensação de abandono desses fãs.

Sophie Ellis-Bextor decepcionou muito pois seus fãs antigos acreditavam que ela voltaria à música disco. Esses fãs jogavam na cara dos outros "ah, mas o Familia é DISCO" como se o Wanderlust de 2014 fosse uma ofensa por não ser. Anti da Rihanna gerou tanta reação negativa que os fãs chegaram a acreditar que era um álbum falso de sobras e que o verdadeiro viria em breve. Eu nem preciso dizer que me encantei por Familia mais até que pelo Wanderlust.

Anahí, Ariana, Celine, Sia e Thalía pareceram acertar e agradar os fãs. Das cinco, a única que arriscou algo diferente foi Ariana. Acho que essa proporção quer dizer algo.

Lemonade e Glory são verdadeiros estopins de guerra entre os fãs quando o assunto é gostar ou não. Bom, meu álbum favorito da Beyoncé segue sendo 4, então não vai assustar ninguém quando eu disser o quanto amei Lemonade. Já Glory...

Glory é algo que eu jamais esperaria de um álbum da Britney, ele é simplesmente esquecível. Ele se mistura nesse mar de lançamentos e se perde à deriva, tentando encontrar um porto seguro que só acha entre os fãs mais fervorosos.

De qualquer forma 2016 foi, assim como os 3 anos antes dele, marcado por lançamentos lentos onde não se bate cabelo há tempos. Eu estou em paz com isso. O problema é que os fãs não estão. Para todo lado que se olhe se verá uma verdadeira multidão que ficou pra trás. Seus artistas foram seguir um rumo e eles ficam inutilmente esperando que voltem. A pior parte é que essas pessoas já estão tão acostumadas a verem seus ídolos mudando além de seus gostos, que já estão pré-programados para não gostar de algo logo de cara.

O que me traz à dúvida final: será que o álbum da Kesha vai suprir esse vazio que ninguém assume ou será que realmente não há mais espaço para este tipo de pop?

RTafuri

Blogger fajuto que sempre diz que vai dedicar mais tempo ao site e nunca cumpre o que promete. Está há cinco anos mantendo o site no ar e todo esse tempo sem saber o que o faz falar dele mesmo na terceira pessoa.

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