Sobre Harry Potter



Não é segredo para ninguém que eu sou um ávido fã de Harry Potter, mas isso nem sempre me traz as melhores experiências. Enquanto sempre lido com muita paciência com todos aqueles que acham que estão me contando a novidade com um trailer que eu já vi 250.000 vezes, há um tipo de pergunta que eu sempre evito ao máximo responder: qual é o meu livro/ filme/ personagem/ trecho/ verso/ fala/ trailer/ ator/ diretor/ Dumbledore/ compositor/ Dobby/ alívio cômico/ professor favorito da saga.

É sempre tão difícil chegar a alguma conclusão, que dirá a uma resposta satisfatória. Sou fã de Harry Potter pelos últimos catorze anos, desde quando assisti ao primeiro filme pela segunda vez nos cinemas. Eu tinha treze. E tive catorze quando descobri tudo o que já havia sido lançado. Tive quinze junto com o Harry em a Ordem da Fênix e, por mais que quisesse dar na cara dele na maior parte do livro, me encantava em como Rowling sabia tão bem demonstrar o que era ter quinze anos. Tive dezesseis quando escrevi minha fanfic com o Harry aos dezesseis e tive dezessete quando ele teve dezesseis de verdade. Já era homem feito quando ele derrotou Voldemort. Já era profissional experiente quando vi isso acontecer nos cinemas.

A gente sempre muda. A vivência modela a nossa visão do mundo e a cada vez que olhamos para algo, enxergamos mais de uma coisa e menos de outra. Em pouco mais de dois meses eu chegarei aos vinte e oito anos e alcançarei um marco que nunca havia cogitado: serei fã de Harry Potter por metade da minha vida. Como em sã consciência posso dizer que tenho um favorito? Como posso, por metade da minha vida, ter a mesma opinião sobre um único aspecto de um universo tão completo? Gostaria de dar algumas das respostas que já dei ao longo dos últimos anos.

Dizia que meu filme favorito era o Cálice de Fogo. Ok, nunca vou gostar de “did you put your name in the Goblet of Fire?”, mas daí dizer que foi o pior erro cometido pelos filmes é um grande exagero. Vamos todos lembrar que, nos filmes, Rabicho continua vivo, Lilá Brown morreu e Neville e Luna provavelmente formaram um casal. E aparentemente o Fred morreu de rir (sério, nunca entendi aquela cena). Uma vez, porém, quando listei meus dez filmes favoritos de todos os tempos, escolhi o Prisioneiro de Azkaban para representar a saga na lista. É inegável que o filme de menor orçamento da série é de longe o mais cinematograficamente coerente e belo.

Falava sempre que não havia livro melhor que o Cálice de Fogo. Dizia e repito até hoje que o equilíbrio entre a magnitude do mundo da bruxaria e o clima de constante suspense nunca fora tão bem explorado. Contudo, é impossível ler o Enigma do Príncipe, não importa quantas vezes e não importa por qual vez, e não notar uma boa forma literária tão grande que você sente ao virar cada página. Nem Relíquias da Morte nem nenhum livro que ela tenha escrito depois dele foi tão seguro de si quanto Enigma do Príncipe.

Existem coisas que eu sou “proibido” de não gostar, pois posso perder minha “licença” de fã. E eu teimo em dizer que continuo não gostando delas. 1. O símbolo das Relíquias da Morte. É feio, é grotesco, representa uma parte da história tão pequena que é um cúmulo as pessoas a usarem para representar toda a saga; 2. Emma Watson. Ela é linda, fantástica, feminista bem maquiada, mas se inclinar pra frente, respirar fundo e dizer a fala com voz sexy, seja qual for a fala, não é boa atuação. E ela fez isso nos primeiros cinco filmes: “Sirius ia gostar de saber disso”, “significa” (pausa sexy dramática pra contar o problema) “que o ministério vai interferir em Hoguiwarts”, “ela é meio” (um bilhão de caras desconfortáveis diferentes enquanto ela não escolhe uma) “sensível”; 3. Rony dos filmes que não pode por alguma lei divina de David Heyman ser um verdadeiro amigo do Harry; 4. O encerramento de Petúnia nos livros. Rowling disse por anos que havia mais sobre Petúnia do que as aparências mostravam. E o grande segredo é que ela conhecia o Snape e havia implorado pra ir pra Hogwarts também? Sério, isso? Eu estava esperando algo enorme, Rowling, não isso.

Podem me chamar do nome que quiserem e, sim, Hedwig’s Theme é linda. Mas não importa o que você faça, nunca, por nada, depois não diga que eu não avisei, nunca mesmo ouça os temas de Harry Potter, Star Wars, Superman e Indiana Jones em sequência. Na metade do caminho você já não sabe mais qual está ouvindo. E nem adianta dizer que é plágio, pois são todos compostos pela mesma pessoa. É preguiça mesmo.

Sim, você leu certo, eu acabei de acusar o John Williams de preguiçoso no parágrafo acima.

A última coisa que eu não gosto não tem nada a ver com a obra oficial, porém com o comportamento de alguns fãs. Vejo sempre tanta gente julgando se o outro é fã ou não sem o menor fundamento. “Você não leu Os Contos de Beedle, o Bardo. Poser”, “você não viu todos os documentários das edições definitivas. Poser”, “você não tem nem um DVD original que seja. Poser”, “você nunca comeu feijõezinhos de todos os sabores. Poser”. São todos tão absurdos e tão unPotterish (referência à primeiríssima página) que é o que mais me ofende.

Gosto de dizer que tenho opiniões diferentes sobre a saga. Gosto do quanto conheço sobre a história e do quanto eu consigo racionalmente discutir sobre ela (exceto por que raios dementadores fogem de um alimento gigante). Gosto da minha coleção. Ela não é muito grande, mas também não é pequena. E cada item nela tem uma história própria. Isso é ser fã de verdade. Ter a própria história com aquela história. E isso qualquer pessoa que de fato goste da série tem. E, portanto, somos todos fãs.

Já está um pouco desatualizada, mas é a foto mais recente que tenho dela.

RTafuri

Blogger fajuto que sempre diz que vai dedicar mais tempo ao site e nunca cumpre o que promete. Está há cinco anos mantendo o site no ar e todo esse tempo sem saber o que o faz falar dele mesmo na terceira pessoa.

Um comentário:

  1. E eu que só tenho três boxes "edição de colecionador"? Que poser eu sou! Hahahahaha.

    E adorei o texto, Rapha! Super divertido. Concordei (com direito a acenos de cabeça, hahaha) em alguns trechos, discordei em outros... mas isso podemos discutir cara-a-cara! Hahahaha.

    Beijocas,

    Dani.

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